21 de outubro de 2020
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Comunidades Fraternas

As atuais Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil – DGAE (2019-2023), reforçam a necessidade de se investir pastoralmente em comunidades eclesiais missionárias, como espaços privilegiados de comunhão e de missão.

Não se trata de algo totalmente diferente, tendo em vista que à luz do Concílio Vaticano II, no solo da América Latina, houve um desabrochar magnífico das Comunidades Eclesiais de Base – CEB’s, numa lúcida atitude de beber das fontes originárias das primeiras comunidades, e manter a fidelidade do seguimento a Cristo.

O que se pede agora é que as comunidades, sem comprometerem sua identidade, descubram novas formas e novas linguagens de anunciarem a mesma mensagem serena e profética do Evangelho, num contexto marcado pela mentalidade urbana. Além disso, propõe-se que o conceito de comunidade se amplie, assumindo outros espaços possíveis, rompendo o perigo de um apego exagerado às estruturas, que impedem uma abertura à criatividade de Deus, que renova todas as coisas (cf. Ap 21,5).

Essas comunidades, com suas pastorais, movimentos e grupos ou mesmo aquelas que nascem com uma organização mais simples, não são instâncias isoladas e indiferentes, mas chamadas a se articularem fraternalmente como comunidade de comunidades, imbuídas de um estilo sinodal que permita um caminho na unidade.

Utilizando a imagem de uma casa com portas abertas, as atuais Diretrizes apresentam as comunidades eclesiais missionárias firmadas em quatro pilares estruturais: Palavra, Pão, Caridade e Ação Missionaria. Dessa casa de irmãos emerge o impulso missionário do dia de Pentecostes, onde todos se sentem Igreja em saída para abraçarem as tantas realidades humanas, sociais e ambientais que precisam urgentemente da luz do Evangelho.

Na essência das comunidades cristãs está o desejo incontido de se doar, à exemplo de Cristo que amou até as últimas consequenciais. Não visa a sua auto-proteção ou uma espécie de estabilidade egoísta, presa a doutrinas e moralismos arcaicos, mas entra na realidade com traços fortes de liquidez e injustiça, para oferecer a novidade do Evangelho, possível e atual a qualquer contexto. Uma comunidade só se evidencia como Igreja de Cristo quando tem um coração alargado, um amor ágape, como o do samaritano, que supera a visão de gueto e assume o horizonte da cruz de Cristo que abraça todos os âmbitos do mundo e todas as suas realidades, conduzindo-as à vida plena.