22 de fevereiro de 2016
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Jejum: equilíbrio espiritual

Foto: Reprodução

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“Quando jejuares, unge tua cabeça e lava teu rosto, para que os homens não percebam que estás jejuando, mas apenas teu Pai, que está lá no segredo; e teu Pai, que vê no segredo, te recompensará” (Mt 6, 17-18).

Para que nos serve o jejum? Durante toda a quaresma encontramos esta atitude numa leitura bíblica ou noutra. Faz-se mister, ora, questionarmo-nos a esse respeito. Algumas pessoas, quando se aproxima o Tempo da Quaresma, começam a pensar em que jejum deve realizar. Abstem-se de carne vermelha, argumentando não comer qualquer alimento que recorde o derramamento de sangue; outras deixam de comer massa ou qualquer outra delícia gastronômica. Ouvem-se também alguns exemplos de pessoas determinadas a não comer alimentos não nutritivos, mas saborosos. Algumas argumentam serem necessários todos os 40 dias com o respectivo jejum. Os mais liberais optam apenas para a Quarta-feira de Cinzas e Sexta-feira da Paixão e nada mais. 

Dessa forma, o jejum parece estar ligado apenas ao deixar ou não deixar de comer algum alimento. Sugere compreender objetivamente, a partir da tradição, a saciedade estomacal. Mas a prática do jejum transpassa essa compreensão. Faz-nos compreender o sentido da sobriedade. Daí a possiblidade de jejuar não só de alimento, mas também de tudo aquilo que se torna supérfluo na vida humana. E para um sentido mais profundo, é instrumento eficaz para a superação dos vícios desordenados e paixões da carne.

Algumas pessoas que possuem vida alimentar saudável, que normalmente não exageram no consumo, mas, preocupa-se com a boa performance física podem se abster de outra coisa que não seja alimento. Suponhamos que se trata de um consumista de produtos eletrônicos ou moda vestuária. Durante a Quaresma pode-se abster de não consumir tanto. Outras que alimentam qualquer espécie de vícios, como o tabaco, o álcool, drogas lícitas ou ilícitas, durante esse Tempo pode se propor em abandonar as práticas que lhe induzem fortemente à perdição.

Diante disso, podemos responder que o jejum nos propõe três reflexões práticas para nossa vida cristã: a) dá-nos a capacidade de viver sobriamente, com aquilo que nos é necessário para sobreviver, e bem; b) afasta-nos do vício, seja ele qual for, e nos garante a vivência das virtudes; c) faz-nos senhores de nós mesmos. Podemos dominar a nossa própria natureza quando em desequilíbrio. Em suma, o jejum é instrumento de equilíbrio físico, psicológico e espiritual. Vale dizer que o equilíbrio gera a sobriedade e esta gera a partilha.

*Pe. Jordano Viana Fernandes é pároco da Paróquia de São Sebastião de Ibiassucê