Neste domingo (24), centenas de pessoas, de praticamente todas as 33 paróquias da Diocese de Caetité se encontraram no Santuário Gruta do Sagrado Coração de Jesus (Ituaçu-BA, Diocese de Livramento de Nossa Senhora). Dentro do Ano da Misericórdia, esta foi uma das maneiras de viver a experiência que nos pede o Papa Francisco ao instituir este jubileu. A peregrinação, o sair de si é ir: ir ao encontro de Deus, do outro, não ficar em si; é um caminho para se renovar.
O local escolhido, uma gruta-santuário, também nos ajuda a perceber esta nossa realidade de pecado-escuridão/graça-luz, do nosso movimento em busca do perdão e do movimento do Senhor em busca de nós, para nos reconciliar. Ao entrar na gruta é preciso descer. Uma descida íngreme: tanto pelos degraus como por uma rampa, aquela que se tem acesso depois de passar pela Porta Santa deste Santuário, porta sempre aberta.
Lá embaixo encontramos a igreja, isto é, um altar do Sagrado Coração de Jesus. O que isso nos faz pensar? Aqui se mostra que, apesar de irmos até o “fundo do poço” da nossa existência com o pecado; apesar de mergulharmos na própria escuridão, no frio, no não ser capaz de ver a nós mesmos e ao que nos rodeia, ainda assim, lá embaixo… lá mesmo… o Coração de Jesus nos encontra. Ele desce até a nossa miséria, a nossa fragilidade. Ele vem até nós. Bela imagem da nossa vida marcada pelas descidas e pelos erguimentos mais uma vez, pela graça da misericórdia do Senhor.
Para alguns que foram ontem à Romaria e tiveram a possibilidade de fazer a travessia da gruta, certamente perceberam que esta travessia pode ser bem um metáfora da nossa própria existência, do mergulho no nosso eu. São cerca de 40 minutos à uma hora de caminhada pelo subterrâneo da gruta. Os primeiros 800 metros são iluminados, depois é escuro. Somente o lampião do guia é a luz, ou a sua própria lanterna.
Pisa-se sobre rocha, sobre areia. É preciso abaixar, reclinar-se pelo caminho. Momentos de profundo silêncio e escuridão. É preciso, também, estar atentos para perceber algo no caminho, quase imperceptível: as rochas que “têm outras formas”, sinais. Depois da caminhada, que parecia não mais acabar, se vê um raio de luz: é a saída! É a volta para superfície que se fará também por uma subida.
Também nós fazemos a travessia na escuridão do nosso próprio ser. Somos guiados pela fé, luz tênue, mas luz que permite ao menos não nos perdermos por completo. Aprendemos que não é bom e nem aconselhável caminhar sozinho. É melhor em grupo, tendo irmãos, companheiros e companheiros, que partilham o mesmo caminho, as descobertas, as dificuldades, os medos e o passo para frente. Sabemos que o caminho não é conhecido, mas é bom saber que podemos contar com a presença de alguém que não nos abandona, ele é “o nosso guia” a mostrar o caminho.
É o Espírito Santo que conduz a Igreja nos caminhos da história: “luz dos corações…”. Neste caminho que é o caminho interior, o caminho da fé, o caminho da vida cristã, pode haver tropeços, quedas, até o cansaço que pode nos fazer “voltar”, mas, com ajuda do Espírito e dos que caminham conosco, podemos reerguer e voltar ao passo até vermos “plenamente a luz”.
Este domingo, 24 de abril, dia do Senhor, foi momento especialíssimo para a nossa diocese fazer a experiência profunda da misericórdia do Senhor, para “sermos misericordiosos como o Pai”, para sermos uma “comunidade de misericórdia”, especialmente para os que caem no caminho, os que se perdem no “interior e na escuridão das grutas existenciais”. Para ser homens e mulheres iluminados pelo bondade, pelo perdão do Pai que brota do rosto e do coração do Filho Jesus, homem e Deus, nosso Salvador.