“Hoje a Igreja te convida ao pão vivo que dá vida: vem com ela celebrar!” (Sequência Lauda Sion, 3ª estrofe).
Na história de nossa igreja, o segundo milênio é marcado pelo surgimento de festas que celebram ideias devocionais e/ou teológicas. Dentre elas, está a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, popularmente conhecida como Corpus Christi (Corpo de Cristo), festejada na III semana após Pentecostes, na quinta-feira.
A origem mais remota da festa está no período de intenso florescimento da devoção eucarística, desenvolvida nos séculos XII e XIII, durante a Idade Média. Duas questões estão na centralidade do contexto gerador da referida devoção. O discurso austero sobre receber a eucaristia, em estado de pecado, cujo efeito prático foi afastar as pessoas da comunhão, pois temiam uma possível postura negligente, junto ao Santíssimo. E, a reação a alguns teólogos, que negavam a presença real de Cristo nas espécies sagradas.
Como havia na época a intensa difusão, sobre a ideia de pecados impeditivos da união com Cristo, surge à piedade popular eucarística desvinculada da comunhão, em que agora, estaria direcionada, para o anseio de “ver” elevada a hóstia consagrada. Esse gesto tem seu primeiro registro em Paris, no ano de 1200 que, se popularizou e persiste na atualidade.
Além disso, alguns teólogos, como Berengário de Tours, acreditavam que toda matéria produzida no mundo seria má. Assim, para esses, justificaria a negação da Eucaristia enquanto presença real de Cristo na terra, lugar de matéria corrompida. Discurso que foi sobrepujado no IV Concílio de Latrão, com a doutrina da transubstanciação, que mais tarde serviria também de respaldo, e para elaboração das definições do Concílio de Trento que, declara ser celebrado com solenidade o excelso e venerável sacramento, e reverentemente levado em procissão por lugares públicos.
Importante ainda recordar que, a Solenidade de Corpus Christi foi impulsionada por Santa Juliane de Liége (Bélgica). A religiosa teria tido visões de símbolos como uma lua cheia luminosa, porém de parte escura, cujo significado seria o Ano Litúrgico da igreja. O sentido da parte menos clara da lua, seria justo, a ausência da festa em honra da Eucaristia. Na sequência litúrgica, a luz nas visões da Santa é representada em: “Era sombra o antigo povo, o que é velho cede ao novo, foge a noite, chega à luz.” (Lauda Sion, 8ª estrofe). Santa Juliana compartilhou as visões com seu diretor espiritual que após diversas consultas, com seus superiores, passou a defender a festa.
Segundo conta a tradição, o então Papa Urbano IV teria aprovado a Solenidade após encarregar Santo Tomás de Aquino, de compor a Liturgia da nova festa que surgia no seio da igreja. Atribui-se ao Santo as orações presidenciais da Missa, dentre elas, a sequência Lauda Sion, cuja terceira estrofe de abertura deste texto, é um convite à celebração ao chamado Divino, de nos aproximarmos Dele que, se deleita com o louvor de suas criaturas. De um Deus amor, que revela a quem deseja a ciência perceptiva do profundo mistério, contida no sagrado.
Celebrar festivamente Corpus Christi é nosso amor manifestar, pois o pão foi entregue por Jesus, a quem escolheu, para a sua salvação. Nesta solenidade do corpo e do sangue de Cristo, referência central de nossa igreja, manifestamos a nossa fé no Senhor, que permanece conosco, no sinal de Sua Páscoa. Assim, unindo-nos na mesma fé, como comunidade reunida em torno da Mesa Eucarística, presente de Deus, para alimento gerador de vida.
Referências consultadas:
http://pilulasliturgicas.blogspot.com/2012/06/sequencia-de-corpus-christi.html. Acesso em 04/06/2021, às 11h 30.
https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2021-06/historia-da-solenidade-de-corpus-christi.html. Acesso em 03/06/2021, às 19h 40.