Em 1979, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançava, na Quaresma, mais uma Campanha da Fraternidade. Com o lema “Preserve o que é de todos” e o tema: “Por um mundo mais humano”, a CF descrevia no seu objetivo geral: “Basicamente a ecologia conclama todos a uma nova mentalidade. Trata-se de superar o egoísmo, a ganância de possuir mais a qualquer preço. Trata-se de ser escrupulosamente preocupado em preservar e conservar o ar, a água, a flora e a fauna que são elementos necessários ao próximo. Trata-se de readquirir o carinhoso respeito e a contemplativa admiração em face às belezas da natureza”.
A Campanha naquele ano trazia a temática da Ecologia e da válida e necessária atenção dos cristãos também para com esta questão que, à época, estava ainda como uma reflexão inicial. Interessante que anos mais tarde, o Papa João Paulo II falaria de uma “conversão ecológica”. Também Bento XVI trouxe o conceito de uma “ecologia humana” e apresentou a justiça ambiental às futuras gerações como uma questão moral. Por fim, mais proximamente, o Papa Francisco com sua Encíclica Laudato Si’ e as reflexões sobre a “ecologia integral”, relacionando a defesa e o cuidado da Casa comum com a justiça para com os mais pobres.
Naquele 1979, como nos anos anteriores, – e ainda é um costume – o Santo Padre João Paulo II enviou a seguinte mensagem aos bispos brasileiros e aos fiéis:
“Carta de Sua Santidade o Papa João Paulo II
Caríssimos irmãos e irmãs do Brasil:
“Para um mundo mais fraterno”, cada um “preserve o que é de todos!” Com este lema se abre entre vós mais urna Campanha da Fraternidade para o tempo litúrgico da Quaresma, cujo sentido autêntico a Igreja toda, com Mensagem hodierna, foi exortada a revitalizar. Quaresma não quer dizer apenas privar-se, jejuar, ou abster-se de alguma coisa. Seria pouco, quando tantos homens, nossos irmãos, vítimas de guerras, de catástrofes ou de outros males, sofrem de modo atroz, física e moralmente. Com a ascese pessoal, sempre necessária e dever do batizado, viver a Quaresma é privar-se, sim, mas para dar.
Dar, antes de mais, um testemunho de conversão pessoal e coletiva, aos olhos do mundo: “todo o Povo de Deus, porque pecador, precisa preparar-se, pela Penitência, para reviver liturgicamente a Paixão Morte e Ressurreição de Cristo”.
Dar, depois, mostras dessa conversão ao amor de Deus com gestos concretos de amor ao próximo. Este ano, as vossas Comunidades eclesiais, sincronizadas, vão orientar e animar a vossa Penitência Quaresmal, em vista da preservação do ambiente natural e humano, patrimônio comum. Isto é condição de vida, fator de progresso integral e manifestação do sentido de família entre os homens, e daquele amor que cria solidariedade, fraternidade e paz, de acordo com os desígnios de Deus.
Para tanto, há que renovar ou criar uma mentalidade, educar-se e educar constantemente para o amor cristão da natureza, para louvar a Deus Criador — como São Francisco de Assis – para o bem comum e para se libertar pessoalmente de tudo o que escraviza e impede afirmar-se em nós e à nossa volta a plenitude da Salvação de Cristo (cf. Cl 1,16-20).
Respondei ao apelo, Irmãos e Irmãs, antes que seja demasiado tarde. Cada um, com espírito de Penitência quaresmal, “preserve o que é de todos para um mundo mais fraterno”. E eu vos abençoo, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.”
Duas observações a considerar:
1.Antes de compartilhar críticas ou espalhar maledicências sobre a Campanha da Fraternidade e sobre a CNBB, sugiro que conheça um pouco mais desses 59 anos de história da Campanha da Fraternidade. Conheça o seu Objetivo Geral e Específicos. Tenha também a honestidade intelectual, a caridade e o discernimento que se exigem de cada cristão para conhecer teologicamente, canonicamente, pastoralmente e historicamente a nossa Conferência Episcopal, a CNBB, que no ano passado completou 70 anos de fundação e de missão…!
2.Qual motivo levou 4 papas (Paulo VI, João Paulo II, Bento XVI e Francisco) a enviarem mensagens por ocasião da Abertura da Campanha da Fraternidade? E, como na mensagem de João Paulo II, citada acima, relacionar esta iniciativa pastoral da Igreja no Brasil com o genuíno espírito quaresmal, que é o da conversão a Deus e uma abertura sempre maior à caridade fraterna, especialmente, para com os sofredores, abandonados e mais pobres? Estariam os Papas enganados ao convidar os fiéis católicos do Brasil a viverem a Campanha da Fraternidade como sinal concreto de conversão, mudança de mentalidade e piedade que agrada ao Senhor?
Se os Papas valorizam e parabenizam a CNBB por esta iniciativa, o que realmente motiva os que querem esvaziar o sentido e a realização da Campanha da Fraternidade? Os que já tem como “modus operandi” a cada ano uma sistemática campanha de ataques, especialmente nas redes sociais e plataformas digitais, contra a CNBB e a CF?
Pensemos…e deixemos com que o espírito quaresmal nos desperte para abandonar o mal e abraçar o bem; fugir das atitudes e palavras arrogantes, das falsidades no proceder e no falar; deixar o egoísmo e individualismo e permitir que o próximo habite em nossos interesses e atenções…
Uma Quaresma vivida para o Senhor que nos convida a ter o Seu olhar misericordioso, Seus ouvidos que escutam os clamores dos pobres, Suas mãos que se abrem para dar e para Dar-se…é o meu desejo para você, meu irmão e minha irmã…!
Todos precisamos de conversão. E cada um deve começar por si, mas não parando, egoisticamente, aí…
Até porque a verdadeira conversão é pessoal, mas nunca individualista! Ela, qual itinerário, nos fará, necessariamente, encontrar com as realidades que nos rodeiam e com os apelos que destas brotam… Eis a “conversão social”, da qual nos fala a Doutrina da Igreja…
Então: será que tem sentido, nesse ano de 2023, na Quaresma, refletirmos sobre o problema social da Fome? Você e eu temos algo a ver com isso? Será “a Fome” também uma matéria para a nossa revisão de vida e conversão? E Deus: o que Ele disse e tem dito sobre isso?