Dom Antônio Alberto Guimarães Rezende

Fecite Christi Mandata
⊶ Fazei o que Cristo disser ⊷

07º Bispo da Diocese de Caetité


Bispo na Diocese entre 1981 e 2002
⋘ ✯ 03-05-1926 ⋙ ⋘ ✟ 13-04-2015
Ordenação Presbiteral: 08-12-1953
Ordenação Episcopal: 06-01-1982


Mineiro de Uberaba, dom Antônio Alberto pertencia à Congregação dos Sagrados Estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo. A profissão de seus votos religiosos aconteceu em 09 de dezembro de 1946. Estudou Filosofia e Teologia em Ribeirão Preto (SP) e tinha os cursos de Sociologia e Espiritualidade. A ordenação presbiteral aconteceu em 08 de dezembro de 1953. Dom Alberto atuou como missionário, formador e pároco.

Em novembro de 1981 foi nomeado bispo pelo papa João Paulo II para a diocese de Caetité. Sua ordenação episcopal aconteceu no dia 06 de janeiro de 1982, em Roma, na Itália. O lema episcopal escolhido foi “Facite Christi Mandata” (Fazei o que Cristo disser).

O bispado de Dom Alberto (1982 – 2002) se desenvolveu em um tempo duro, de parcos recursos humanos e materiais neste alto sertão baiano. Sua missão, no entanto, foi intensiva e tem a marca de quem buscou levar a mensagem do evangelho aos mais distantes rincões, cuja atuação se deu a duras penas. Quando não iam a pé, os missionários sacolejavam, ao lombo de animais, mas não deixaram de realizar o trabalho ainda que houvesse muitos obstáculos.

Dom Alberto fazia visitas com amor e com alegria, tendo à frente seus propósitos de buscar convencer os cristãos de que a família deve rezar unida, pois Jesus está presente onde se reunirem em Seu nome (Mat. 18, 19 e 20) e ensinava a oração: “Jesus me ama, Jesus me perdoa, Jesus me salva” Sua devoção por Nossa Senhora também era enfatizada e solicitava do povo que decorassem os versos baianos que ele criara: “Uma verdade vou falar, sem medo de errar: quem seu terço sempre rezar, sua alma há de salvar” (REZENDE, 2011, p. 60).

Mesmo com todas as adversidades, Dom Alberto participou ativamente das Missões, que tinham como finalidade conscientizar o povo sobre as necessidades de ter Jesus na própria vida. Para isso, contribuiu na fundação e/ou expansão das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) dentro da espiritualidade que une fé e vida. O objetivo era apoiar os pequenos proprietários no sentido de se interessarem em aprender e aplicar os novos métodos da agricultura familiar, próprios para o semiárido, incentivá-los na expansão do cultivo de plantações adequadas à região, como a palma, pouco utilizada na época.

Pelo apoio dos padres, freiras e os leigos engajados às comunidades da região, o povo foi percebendo a força que há numa comunidade que se uniu e fez reuniões para rezar e para discutir a vida com o propósito de conquistas, como os veículos de comunicação, a Rádio Educadora Santana de Caetité, os informativos impressos, o “A Caminho”, por exemplo. Com eles, em sintonia com as muitas pastorais sociais, foram garantindo articulação e incentivo a projetos com fortes ações na comunidade, das quais, até o momento, vêm contribuindo para a formação pessoal e social do povo diocesano.

Quanto a Rádio Educadora Santana de Caetité, importante dizer que ela entrou no Ar pela primeira vez, no dia 15 de março de 1981, por iniciativa de Dom Eliseu Maria Gomes de Oliveira, então bispo de Caetité, que, juntamente com o professor Francisco Hélio Negreiros, Manoel Cardoso Neves e Monsenhor Adhemar Cardoso Neves, fundou a referida emissora, cujo objetivo era de evangelizar e contribuir com a formação da cidadania. No bispado de D. Antônio Alberto Guimarães Rezende, passou, em 1987, a pertencer à Fundação Cultural e Educacional Santana de Caetité, entidade que passou a ser a mantenedora da Rádio Educadora. Criou-se o Clube dos Sócios e a contrapartida tem relação ao engajamento social. Os sócios passaram a contar com atendimento médico e descontos em anúncios, notas e pela lembrança ao dia de aniversário.

Ampliaram-se as rádios na cidade, a grande maioria FM e de propriedade particular. Ciente da realidade em constante transformação, Dom Alberto, também, planejou instalar uma FM para funcionar concomitantemente com a AM para, após averiguação de eficiência, decidir sobre a continuidade de ambas ou não, chegou a comprar a aparelhagem, mas não pôde acompanhar a finalização do projeto.

Foram tempos bastante frutíferos para todo o povo, embalados pelas ideias de democratização, de abertura política; o sertanejo, sob a orientação do seu pastor, também se fez presente, unindo fé e vida, buscando incentivar para que a voz dos homens e mulheres simples pudesse ecoar por justiça, liberdade e solidariedade. Fortificado pela fé e acreditando na emancipação do povo sertanejo, Dom Alberto, na época, delegou responsabilidade não somente aos padres e religiosas, mas também aos leigos.

Outra ação importantíssima desse bispado foi a participação na revitalização do Hospital Regional de Caetité, construído no final da década de 1940. Quando Dom Alberto assumiu a Diocese, logo se conscientizou da importância dos serviços prestados pelo hospital à comunidade. O interior da Bahia começava a se desenvolver, outros hospitais estavam sendo construídos na região e o pensamento da equipe médica já não era o mesmo. Dom Alberto considerou o momento ideal para o Estado admitir a responsabilidade que até então era assumida pela Igreja.

Nessa mesma época, Dom Alberto escreveu para o alemão Walter Dreher, residente por longos anos no Município de Caetité, por ser proprietário de lavras de gemas, exploração de pedras preciosas, em Brejinho das Ametistas, solicitando-lhe ajuda para empreender ações sociais. Segundo Dr. José de Carvalho Costa, Walter Dreher era amigo de seu pai. Este, quando da visita do alemão à sua família, solicitou ajuda dele, que prometeu auxiliá-lo na crise financeira por que passava o hospital, mas viajou para sua terra sem deixar a doação pretendida.

Tempos depois, chegou ao Banco do Brasil volumosa quantia em seu nome, a qual foi identificada como sendo o montante prometido pelo Sr. Walter ao hospital; constatada a doação, o médico repassou a referida quantia para o Banco do Estado da Bahia – BANEB e aplicou o valor recebido, para aproveitar a situação favorável das aplicações financeiras por que passava o país, e o montante duplicou, possibilitando uma grande ampliação do prédio, compra de equipamentos e reformas, além da manutenção por longo período, de acordo com as emergências.

Dom Alberto percebeu a necessidade de recursos humanos, conseguiu, junto à Congregação Servas de Maria Reparadoras, uma religiosa, formada em enfermagem, Irmã Afra, que passou a cuidar da organização e higiene hospitalar. Sob sua supervisão incansável e severa, o hospital se transformou num centro de saúde de referência para a região. Assim, a cada dia, o hospital melhorava e se modernizava. Mas, com as exigências do Ministério da Saúde, as despesas se tornavam insustentáveis.

Com o intuito de ampliar os espaços de atuação por uma formação mais libertadora, Dom Alberto promoveu a vinda de duas congregações masculinas, contando com a participação de consagrados e consagradas numa Diocese em que deveria fortalecer as missões. Acolheu padres Maristas e Rogacionistas, oito novas congregações e dois institutos seculares femininos: “Esses anjos do senhor contribuíram para a promoção integral das pessoas ao fortalecerem a fé e conscientizarem sobre a participação social cidadã” (REZENDE, 2011, p. 143).

Com essa ação parceira, nas diversas paróquias da Diocese, como em Condeúba, ocorreu a Promoção e Desenvolvimento da Criança — PRODEC, com o objetivo de oferecer, gratuitamente, às crianças de escola pública, reforço escolar, alimentação, treinamento e formação com essa ideia de favorecer condições para o acompanhamento e a formação do povo de Deus.

Destacamos aqui a presença de leigos missionários vindos de Santa Catarina que colaboraram por um tempo junto às paróquias de Tremedal, Piripá e Cordeiros. Realizou-se naquele período o I Congresso Catequético Diocesano (1988) no mesmo ano das comemorações dos 75 anos da Diocese, que, na ocasião, trouxe de volta Dom Silvério e Dom Eliseu.

Organização como a Pastoral de Educação, mediante convênio com o Movimento de Educação de Base — MEB e com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil — CNBB, que atuou, por mais de cinco anos na Diocese, desenvolveu suas atividades nas paróquias de Caetité, Guanambi, Candiba, Rio do Antônio, luiú, dentre outras. O projeto apoiou as comunidades no processo de alfabetização pela leitura da vida, incentivando-as para pensarem o perigo que há numa formação repetidora, baseada em modelos já estabelecidos: […] “Não problematizada, nossa própria relação com os saberes adquire, com o passar do tempo, a opacidade de um véu que turva nossa visão e restringe nossas capacidades de reação […]” (TARDIF, 2002, p. 276).

Dom Alberto ficou conhecido como um Bispo engajado na luta pela terra. Foi perseguido por políticos de direita, mas não se intimidou, ficando sempre ao lado e na defesa dos menos favorecidos. Não admitia a injustiça cometida pelos governantes contra pequenos proprietários sertanejos. Adotava o princípio da Pastoral da Terra: “Terra por terra, casa por casa”. Também alertava contra os grileiros, convocando a união dos proprietários para que não deixassem as cercas invadirem suas terras (REZENDE, 2011, p. 150).

Suas atividades missionárias, desde aquelas realizadas ainda como pároco, sempre foram importantes, chegando a somar vinte e duas mil. No início de seu episcopado, era responsável por inúmeras paróquias sem sacerdote. Por essa razão, mesmo sem muitos recursos de comunicação, supervisionava e incentivava os trabalhos das Santas Missões. Quando não podia estar presente, enviava cartas para os animadores comunitários, dizendo-lhes que fossem firmes no propósito de fomentar a fé. Sempre unido e unindo párocos e bispos. Ao destacar a missão dizia: “Deus sempre foi generoso para com os missionários estigmatinos brasileiros, derramando sobre nossos trabalhos abundantes bênçãos” (REZENDE, 2011, p.76).

Com a consolidação das missões, aconselhou os padres para que conseguissem doações de terreno e neles construíssem Centros de Treinamento de Líderes na zona urbana e capelas nas CEBs na zona rural. Apenas em Caetité, foram construídas treze capelas. Dom Alberto procurou seguir as recomendações do Núncio Apostólico e buscou apoiar o desenvolvimento de ações já implantadas, como a revitalização do Seminário São José, diocesano e a Faculdade, recém-criada. Deu, entretanto, maior assistência ao Seminário. Com significativo período sem ordenação sacerdotal, sendo a última, em 1982, a do Pe. Dacílio Ferreira Dantas (in memorian), somente voltaria com novas ordenações em 1995. Em novembro, daquele ano, aconteceu a ordenação de Pe. Osvaldino Barbosa, paróquia de Candiba e, em dezembro do mesmo ano, a do Pe. Cleonídio Alves da Silva, em Guanambi.

Começou, desde esse período, forte esforço da Diocese, através da Pastoral Vocacional, para ampliar o número de vocacionados. Fernandes (2011) diz que, desde o ano de 1983 até os dias de hoje, há um impulso nesse intuito de avançar na dimensão formativa de jovens, buscando escutá-los e orientá-lo para a decisão vocacional, seja para o aumento do clero colegiado e vida consagrada, seja, também, para o ministério leigo.

O Seminário Diocesano São José voltou a funcionar como etapa de formação propedêutica, juntamente com as Dioceses de Vitória da Conquista, Jequié e Livramento de Nossa Senhora; investiram na formação comum aos Seminaristas de Filosofia no Instituto Nossa Senhora das Vitórias, em Vitória da Conquista, bem como aos seminaristas de Teologia na Residência Interdiocesana Nossa Senhora de Guadalupe, em Belo Horizonte.

Paralelo a esse trabalho, Dom Alberto foi, também, grande idealizador e motivador da Obra das Vocações e Ministérios – OVM, uma forma de colaboração das paróquias e comunidades para com a formação dos padres. Insistia para que em todas as celebrações não se esquecesse de pedir ao Senhor da Messe, para que não deixasse faltar operários. Os resultados vieram e treze novos padres diocesanos foram ordenados e um significativo número de rapazes e moças ingressou na vida religiosa consagrada.

Com as ordenações dos novos padres, começaram as experiências de comunidades de padres residindo numa paróquia, atendendo às paróquias vizinhas, sendo a primeira, Brumado, com os padres Osvaldino Barbosa e Cleonídio Alves da Silva, que formavam comunidade e ajudavam ao Mons. Antônio Fagundes. Mais tarde se juntariam a esta equipe os padres José Carlos – que dava assistência à Paróquia de Aracatu – e Paulo Ferreira que atendia à Malhada de Pedras.

Essa experiência também foi realizada nas paróquias de Caculé e da vizinha Ibiassucê, ambas atendidas pelos padres José Carlos e João Sá. Em Guanambi, essa experiência de vida comunitária dos padres italianos e brasileiros se realizou, trazendo muitos benefícios à Diocese. Com o poema “Adeus Caetité”, Dom Alberto caracteriza a cidade de Caetité:

Pequenina e nobre, Caetité,
A cidade poética da Bahia.
De gente culta, festiva e de fé,
repleta de beleza e galhardia. […]
(REZENDE, 2002, p. 14).

Talvez pelos muitos desafios encontrados, na Diocese, por Dom Alberto, visualizamos a falta de maiores investimentos em ações acadêmicas que pudessem dar maior significado às leituras históricas, culturais e ambientais da região. O lugar sempre necessitou de valorização e de reconhecimento, não somente de exaltação, como muitos ainda fazem; seu patrimônio histórico, cultural e ambiental precisa ser melhor estudado e defendido, como condição de enfrentamento aos muitos desafios causados pelas intervenções como a chegada de empreendimentos industriais.

Desde a iniciativa e luta de Dom Eliseu para a fundação da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Caetité, instituição pioneira no sertão, ação que teve apoio do Monsenhor Antônio Raimundo dos Anjos e do Pe. Adhemar Cardoso Neves, com a colaboração do professor Hélio Negreiros, que a região cria a expectativa de conseguir um espaço acadêmico mais fortalecido. Nascida sob os auspícios de uma entidade particular, a referida faculdade, no que diz respeito ao processo de fundação, estadualizou-se durante o período de vacância da Diocese numa hábil articulação do Monsenhor Antônio Raimundo dos Anjos.

Sua renúncia da Diocese de Caetité aconteceu em 13 de novembro de 2002, aos 76 anos de idade. Dom Antônio Alberto voltou para sua terra natal, Uberaba – MG. Em 2015, o bispo emérito de Caetité foi vítima de um acidente vascular cerebral – AVC, quando foi internado na UTI do Hospital e Maternidade São domingos, em Uberaba. Dom Antônio Alberto faleceu no dia 13 de abril de 2015. Seu corpo foi transladado para a cidade de Caetité, onde foi velado e sepultado.