25 de março de 2016
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Sexta-feira Santa: “ninguém tira a minha vida, eu a dou por mim mesmo”

“EIS O LENHO DA CRUZ, DO QUAL PENDEU A SALVAÇÃO DO MUNDO”
“EIS O LENHO DA CRUZ, DO QUAL PENDEU A SALVAÇÃO DO MUNDO”

Sexta-feira da Paixão. Estamos no segundo dia do Tríduo Pascal. Como desdobramento da Ceia do Senhor e do lava-pés, hoje contemplamos o desenlace trágico da vida de Jesus que, tendo sido traído por um beijo e, consequentemente, julgado e condenado à morte, entregou a sua vida como uma oferenda amorosa e agradável a Deus. O evangelista João destaca neste momento a liberdade total e autêntica de Jesus: “ninguém tira a minha vida, eu a dou por mim mesmo” (Jo 10,18)

A tradição popular soube associar os sofrimentos do povo aos de Cristo na cruz, traduzindo-os numa riqueza inumerável de gestos e cantorias que expressam o esforço e a piedade humana em corresponder ao sacrifício do Senhor. 

Em gestos, a tradição da Via-Sacra, ora contemplada, ora dramatizada, exprimindo das entrelinhas do Evangelho os detalhes de todas as penas sofridas por Jesus a caminho do Calvário e na cruz. Em alguns lugares do interior nordestino, sexta-feira santa é dia de carregar água na cabeça para molhar o cemitério como forma de penitenciar-se e lembrar-se dos mortos.

Em cantorias, o tempo imemorável colecionou um acervo riquíssimo de hinos, cantos penitenciais que expressam a Paixão de Nosso Senhor. As elegias, poesias tristes, melancólicas, especialmente compostas como música para funeral, ou lamento de morte, revelam o sentido mais genuíno da espiritualidade popular.

Outrossim, é certo que os Santos Padres da Igreja tiveram um papel fundamental na igreja dos primeiros séculos ao elaborarem a teologia cristã, através das catequeses mistagógicas e dos sermões; aprofundaram a beleza da fé cristã  em teologia e teologia em poesia.

Um dos Hinos de origem patrística cantado nesta sexta-feira da Paixão encontra-se no Ofício das Leituras da Liturgia das Horas da Igreja:

Ó Cruz fiel, sois a árvore

mais nobre em meio às demais,

que selva alguma produz

com flor e frutos iguais.

Ó lenho e cravos tão doces,

um doce peso levais”.

Possamos, neste dia de veneração da Santa Cruz contemplar a Paixão de Nosso Senhor lembrando de todos os injustiçados e crucificados de hoje. Que o silêncio orante deste dia produza em nós frutos de redenção.

*Pe. Waldech é pároco na cidade de Brumado, Paróquia Bom Jesus