A Igreja celebra neste dia 21 de agosto a memória de São Pio X, que foi papa entre 1903 e 1914, nos inícios do século XX.
Giuseppe Sarto era seu nome de batismo. Nasceu em Riese, um pequeno povoado na região do Veneto, norte da Itália, em 1835. Filhos de pais camponeses. Seu pai faleceu quando ainda era criança, e quase o pequeno Giuseppe interromperia os seus estudos, mas foi incentivado a continuar. Entrou no Seminário e foi ordenado padre aos 23 anos. Sempre lembrava que era “um pobre vigário da roça”. E com esta humildade foi vigário, pároco, cônego, bispo, Patriarca de Veneza. Interessante que em cada um dessas missões ficou por exatos nove anos. Dizem que ela brincava: “Agora só me falta ser 9 anos papa…!”. Foi eleito bispo de Roma e Sucessor do Apóstolo Pedro, no Conclave de 1903, sucedendo o Papa Pio IX. Conta-se que pediu dinheiro emprestado para comprar as passagens de ida e volta para deslocar até Roma, de trem, para o Conclave, pois “o Espírito Santo não poderia errar, inspirando os cardeais a escolhê-lo…”. Pensava, assim, que retornaria logo para seu ministério pastoral em Veneza.
Depois da Idade Média, era a primeira vez que um filho de camponeses sentava-se na Cátedra de Pedro para exercer este ministério pastoral. Pio X escolheu como seu lema “Instaurare omnia in Christo” (Restaurar tudo em Cristo) que foi um itinerário de reformas necessárias para aqueles tempos. Alguns dizem ter sido precursor de reformas que seriam aprofundadas pelo Concílio Vaticano II.
Como papa se notabilizou pelo zelo pastoral. Permitiu que crianças pudessem aproximar da Eucaristia, desde que devidamente preparadas pela catequese. Incentivou reformas na liturgia, no canto e música sacra, e no Breviário (livro de orações oficiais da Igreja), como também na organização da Igreja (eleição do papa, nomeação dos bispos, início do futuro Código de Direito Canônico). Promoveu os estudos bíblicos, a formação do clero e refutou os desvios doutrinais do chamado “modernismo”. Lançou um texto de doutrina cristã para Diocese de Roma, que depois se espalhou pela Itália e pelo mundo, ficando conhecido como “Catecismo de São Pio X”. Também acolheu movimentos de leigos, valorizando-os e incentivando a sua missão. Anos depois, Pio XI levaria a cabo esse empreendimento com a fundação da Ação Católica.
Seu falecimento ocorreu em 20 de agosto de 1914, vendo e lamentando os horrores da I Guerra Mundial que já estava em curso. No início do seu testamento encontra-se: ”Nasci pobre, vivi pobre e desejo morrer pobre”. O povo já o tinha como santo. Sua canonização ocorreria em 1954.
Mas, qual relação tem São Pio X com a nossa Diocese de Caetité? Digamos que ele esteve mais próximo do que podia imaginar. Primeiro, porque foi Pio X que, em 20 de outubro de 1913, assinava a bula Maius animarum bonum que criava três novas dioceses desmembradas do território da Arquidiocese de São Salvador da Bahia. Foram elas: Barra, Ilhéus e Caetité. Então, somos uma Igreja particular por decisão de São Pio X, depois de receber solicitação do arcebispo Dom Jerônimo Thomé.
Outra relação de São Pio X com nossa diocese, temos também por intermédio da Congregação das Irmãs Missionárias do Santíssimo Sacramento e Maria Imaculada. Foi São Pio X que aprovou, em definitivo, a fundação desta congregação religiosa de origem espanhola, em 05 de agosto de 1912. As Irmãs Missionárias teriam sua primeira saída da Espanha para o Brasil, vindo fundar um colégio em regime de internato para moças aqui, na cidade de Caetité, no ano de 1935, por solicitação de Dom Juvêncio de Brito, segundo bispo diocesano. As Missionárias retornariam para o solo diocesano anos mais tarde, para as paróquias Bom Jesus (Brumado) e Nossa Senhora da Abadia (Boquira). Nesta última, encontram-se presentes atualmente.
Também a Congregação das Ancilas do Menino Jesus foi reconhecida e incentivada por São Pio X, quando ainda era bispo e depois Patriarca em Veneza. Foi Dom Sarto que assinaria suas primeiras constituições (em 1898) e, um ano antes do conclave (1902), novamente deu sua aprovação para a congregação. As Ancilas do Menino Jesus chegaram à nossa diocese na década de 1970 e continuam presentes até os dias atuais na Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Licínio de Almeida.
Por fim, ainda uma pequena curiosidade que une o Papa Pio X a nós diocesanos. Refere-se ao dia 26 de julho, festa da nossa padroeira diocesana. Até o ano de 1913, coincidentemente nosso ano de fundação, as festas de Sant’Ana e São Joaquim eram celebradas em datas distintas. No princípio, apenas Ana era celebrada e ainda assim em diferentes datas no Oriente e no Ocidente. Foi então o papa São Pio X que ordenou que os avós de Nosso Senhor Jesus Cristo fossem celebrados juntos numa mesma data, ou seja, 26 de julho. Quem visita nossa Catedral, vê no altar-mor, ao lado direito de Sant’Ana, a imagem de São Joaquim, seu esposo.
São Pio X não imaginava certamente o quanto a Providência Divina o faria muito próximo da Diocese de Caetité. Tive a oportunidade, no ano centenário, em visita à Basílica de São Pedro, rezar, com os padres Paulo Ferreira e Pe. Sátiro e alguns fiéis da nossa diocese junto ao túmulo de São Pio X. Também conosco estava o Pe. Martinho Zagonel que aqui trabalhou como missionário fidei-donum da Diocese de Vittorio Veneto. Agradeçamos pelo ministério exercido por este papa e pedimos hoje que continue intercedendo por esta Igreja Particular que ele instituiu em 1913. Que possamos continuar, aqui nestas “terras sagradas do sertão baiano” a ser sinal do Reino “para o bem maior das almas”, como São Pio X começou sua bula, nossa certidão de nascimento diocesana.