Missa em Santa Marta- Resistência versus docilidade
Foram os leigos,
«dispersos pela perseguição desencadeada depois do martírio de Estêvão» a
levar «a palavra aos pagãos em
Antioquia», onde «pela primeira vez foram chamados “cristãos”», obtendo depois a permissão
e o encorajamento da comunidade
dos apóstolos de Jerusalém através de Barnabé. E o segredo daquela primeira e
extraordinária evangelização foi «a docilidade ao Espírito Santo para acolher e
anunciar a palavra» disse o Papa na missa de terça-feira, 9 de maio, convidando
a rezar também hoje precisamente «por Antioquia», e oferecendo a celebração
«pelas religiosas da Casa Santa Marta» –
as filhas da caridade de São Vicente de Paulo – que recordam «o dia da sua
fundadora, Santa Luísa de Marillac».Francisco
observou imediatamente que a primeira leitura proposta pela
liturgia, tirada dos Atos dos Apóstolos (11, 19-26), «começa com estas
palavras: “Aqueles que foram dispersos pela perseguição que houve no tempo de
Estêvão”». De facto, «depois do martírio de Estêvão desencadeou-se uma grande perseguição em Jerusalém e os
crentes fugiram para toda a parte». Só «os apóstolos» permaneceram enquanto «os
leigos partiram, espalharam-se: foram eles
que levaram a boa nova de Jesus: espalhados».Portanto, uma
perseguição, depois do martírio de Estêvão, que «repreendeu muitas vezes –
tantas vezes! – a dureza de coração aos
chefes, aos doutores da lei». E «a palavra mais forte que Estêvão repetia com frequência era precisamente “Vós
resististes sempre ao Espírito Santo”»: resumindo, o pecado é «resistir ao Espírito Santo, fazer
resistência ao Espírito Santo».
«Recentemente – recordou o Papa – falámos muito sobre esta resistência ao
Espírito Santo».«Hoje – observou – as
leituras falam-nos de outro comportamento, o contrário: a docilidade ao
Espírito Santo, que é a atitude dos cristãos». E assim, confidenciou
referindo-se ao trecho dos Atos dos Apóstolos, «pergunto-me: aqueles que foram
até à Fenícia, Chipre, Antioquia “não proclamavam a palavra a ninguém exceto
aos judeus”» porque «ainda tinham esta
mentalidade, que a salvação era para os judeus?». Contudo, no texto lê-se: «Mas
alguns deles, habitantes de Chipre e de Cirene, entrando em Antioquia,
dirigiram-se também aos gregos, anunciando-lhes o Evangelho do Senhor Jesus. E a mão do Senhor – o
Espírito do Senhor – estava com eles». Deste modo «grande foi o número de quem
recebeu a fé e se converteu ao Senhor», como referem os Atos.Por conseguinte esses
cristãos, explicou o Pontífice, «deram o passo de anunciar Jesus Cristo aos pagãos com
naturalidade, porque sentiam que o Espírito impelia a isto: foram dóceis».Portanto «foram os
leigos a levar a palavra, depois da
perseguição, porque possuíam esta docilidade ao Espírito Santo».A este propósito,
confidenciou Francisco, «hoje gostaria de dizer algo sobre esta docilidade». O
apóstolo Tiago, «no primeiro capítulo da sua carta, aconselha-nos a acolher com
docilidade a palavra, a recebê-la como
vem: a palavra que traz o Espírito». Eis que, acrescentou, é necessário
«estarmos abertos, não fechados nem rígidos, mas abertos». E «o primeiro passo
é acolher a palavra, o primeiro
passo no caminho da docilidade é receber a palavra: abrir o coração, recebê-la,
deixá-la entrar como a semente que
depois brotará».Recebida a palavra,
prosseguiu o Papa, «depois aprofunda-se
um pouco» e «o segundo passo é conhecer a palavra: conhecer a palavra e
conhecer Jesus». No Aleluia, observou, «cantámos: “As minhas ovelhas ouvem a
minha voz, diz o Senhor, eu conheço-as e elas seguem-me”». Portanto
«conhecem-me e seguem-me» diz o Senhor,
como se lê no Evangelho de João (10, 22-30) proposto pela liturgia. «O rebanho
não segue os salteadores, nem os que não entram pela porta», frisou o Papa,
insistindo na palavra «“conhecer”:
conhecem, pela força do Espírito, porque são dóceis ao Espírito, qual é a palavra de Jesus».«O terceiro passo é a
familiaridade com a palavra», disse Francisco. De facto, é importante «trazer
sempre connosco a palavra, lê-la, abrir
o coração à palavra, abrir o coração ao Espírito que é quem nos faz compreender a palavra». E «o
fruto deste receber a palavra, de conhecer a palavra, de a trazer connosco,
desta familiaridade com a palavra, é
grande: a atitude de uma pessoa que segue isto é animada por bondade, benevolência, alegria, paz, domínio de si, mansidão». Em resumo, «tudo
o que o apóstolo Paulo diz aos Gálatas no capítulo cinco da sua carta».«O estilo que nos dá
a docilidade ao Espírito é este» explicou o Pontífice, mas «devo receber o
Espírito que me leva à palavra com
docilidade, e esta docilidade, não fazer resistência ao Espírito,
levar-me-á àquele modo de viver, de
agir».Portanto, a estrada
reta é «receber com docilidade a palavra, conhecer a palavra e pedir ao
Espírito a graça de a fazer conhecer». Depois «dar espaço para que esta semente brote e cresça naquelas atitudes de
bondade, mansidão, benevolência, paz, caridade, domínio de si: tudo o que constitui
o estilo cristão». Os Atos dos
Apóstolos, afirmou Francisco, dizem-nos que «quando a notícia daqueles que, provenientes de Chipre e de Cirene, anunciavam a palavra
aos pagãos chegou a Jerusalém, também eles ficaram um pouco assustados e
mandaram Barnabé a Antioquia: “O que acontece? Estes estão a arruinar a fé, por que pregam a
palavra a um pagão, a alguém incircunciso?
Como é possível que não são os apóstolos a pregá-la mas essas pessoas
que não conhecemos?”».E «é bom», comentou o Papa, o que se lê nos Atos: «Enviaram então Barnabé a Antioquia.
Ao chegar lá, alegrou-se, vendo a graça de Deus, e a todos exortava a
perseverar no Senhor com firmeza de coração». Barnabé, referem os Atos, era «um
homem de bem e cheio do Espírito Santo». Assim
há «o Espírito que nos guia a
não errar, a acolher com docilidade o Espírito, a conhecer o Espírito na
palavra e a viver segundo o Espírito». Uma atitude que «é o contrário» em
relação «às resistências que Estêvão repreendia aos chefes, aos doutores da
lei: “Vós resististes sempre ao Espírito Santo”».Depois, Francisco
sugeriu que nos perguntemos «se resistimos ao Espírito», se «lhe pomos
resistência ou se o acolhemos com docilidade, esegundo a palavra de Tiago: “acolhei com
docilidade”». Em síntese, poder-se-ia dizer «resistência versus docilidade», afirmou o Papa, convidando a
pedir a graça de ser dócil. «E um pouco fora da homilia – concluiu o Pontífice
– gosto de dizer isto, que é o modo como
termina a leitura: em Antioquia, pela primeira vez os discípulos foram chamados “cristãos”. É bonito isto, mas
rezemos por Antioquia».