24 de agosto de 2018
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Igreja e ano eleitoral

Por CNBB

São graves os prejuízos quando se elegem candidatos sem as qualidades necessárias para decidir sobre os rumos de uma nação. Nessa direção, a Igreja quer contribuir com reflexões e debates de modo a favorecer a qualificação das escolhas. Trata-se de um processo complexo por articular muitos dados, elementos, interesses, e o emocional, que também fecunda as opções políticas e o alinhamento em torno de nomes.

No quadro da Babel ideológico-partidária – com a proliferação de partidos, que acaba por prejudicar o processo político e confundir o cidadão – a Igreja Católica compreende que sua contribuição ético-moral é indispensável. É missão da Igreja atuar na formação da cidadania, nos exercícios das diversas análises e na busca dos entendimentos, para que as escolhas sejam feitas com qualidade. Assim, a Igreja Católica oferece rica e qualificada contribuição para que a liberdade de escolha de cada cidadão seja norteada por parâmetros éticos.

É preciso contribuir com a evolução da sociedade no aprofundamento da maturidade política, pois o ideológico-partidário, nas eleições, não pode se equiparar à paixão esportiva, como costuma ocorrer. Ora, as consequências para um time, que ganha hoje e perde amanhã, não têm a mesma força determinante da eleição de pessoas para ocupar posições estratégicas, durante quatro anos de mandato – e a possibilidade da reeleição – com prerrogativas e tomada de decisões que definem o futuro da nação.

Por isso, a Igreja vem insistindo na urgência da reforma política que, para ser realizada, requer um parlamento de maior envergadura político-antropológica. Enquanto isso não acontece, paga-se um alto preço pelas consequências desse adiamento e dos remendos na legislação. As inúmeras leis aprovadas, isoladamente, não conseguem tocar as raízes dos problemas e impedem o florescer de uma nova cultura política no tecido da sociedade brasileira.

Pelos sacrifícios que lhe são impostos e pela falta de respostas adequadas, a sociedade brasileira tem experiência histórica para avaliar o quanto a escolha equivocada de determinados nomes pesa, atrasa e impede o progresso. Apenas o ideológico-partidário não é suficiente no processo cidadão de escolha.

Um grande investimento deve configurar o momento primeiro, que envolve os valores éticos, com força de transformação, fundamentais na fase da política partidária que virá em seguida. Sem a ética, resvala-se em várias direções. Cria-se uma sequência de descompassos e de escolhas que interferem seriamente nos processos. O bem comum é comprometido por atitudes manipuladoras sobre o erário e que demonstram falta de competência com relação aos projetos e programas.

Nesse contexto, é notória a falta de preparo e de vontade política na busca de respostas para as demandas por transformações. A situação é ainda mais grave quando se trata da urgente construção de uma nova ordem social, que deve ser a de superar a vergonhosa miséria e a exclusão que oprime e humilha os mais pobres. A Igreja não pode deixar de assumir esta responsabilidade, certamente em parceria com outros segmentos da sociedade comprometidos com a construção de uma política limpa, que seja instrumento para articular dinâmicas de justiça e solidariedade.

Entrar no mundo da política, como Igreja, para organizar bancadas em vista da defesa de interesses cartoriais próprios não tem sentido. Acontece, mas se trata de um desvirtuamento, e a política é acima de tudo uma prática que deve visar ao bem comum. Assim, a exigência primordial é escolher uma representação que possua as prerrogativas morais necessárias, pois apenas a conquista de um mandato não é garantia requerida de autoridade política.  É necessário avaliar o político pelo exercício honesto e competente do poder a ele conferido, especialmente pela atenção dedicada às necessidades do povo.

Lamentavelmente, há um epidêmico comprometimento da autoridade política, quando a prática mais comum é atender determinados grupos e segmentos da sociedade. Um grave exemplo são os prejuízos causados pela depredação do meio ambiente que ocorre, particularmente em Minas Gerais, a partir de medidas ofensivas ao bom senso, à moral, a patrimônios intocáveis. E a luta pela moralização desse setor, e de outros mais, também é tarefa de igrejas e segmentos educativos.

À luz do Evangelho, sejam compartilhadas ideias e reflexões que venham a contribuir para escolhas conscientes. Assim, os segmentos da Igreja podem e devem promover diálogos esclarecedores, em espaços apropriados, a exemplo dos centros pastorais. Obviamente, jamais, se deve admitir comitês de propaganda eleitoral nos espaços da Igreja, que é de todos. Vale lembrar, que não se pode usar, forma alguma, a liturgia da Igreja e os seus espaços próprios para a propaganda política.

O momento atual é o de convocar todos a participarem deste processo político, honrando sua cidadania e contribuindo com escolhas sérias, capazes de ajudar a sociedade a reencontrar os rumos para a construção do bem comum. Seja este o momento de edificar um tempo novo, capaz de reacender a chama da esperança, ancorada em valores que permitam ao povo retomar o seu caminho.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte


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