7 de março de 2025
MACAÚBAS – N. SENHORA IMACULADA CONCEIÇÃ

Encomendação das Almas é tradição em Macaúbas na Quaresma

Por: Alan José Alcântara/Macaúbas

A Encomendação das Almas é uma prática quaresmal comum em todo o município de Macaúbas e região, que tem por objetivo sufragar as almas do Purgatório com penitências e orações, às altas horas. Os participantes da cerimônia envolvem-se num lençol branco e esgueiram-se pelas ruas secundárias da cidade, para não serem reconhecidos e evitar apupos, até um local próprio: cemitério, portas de igrejas, cruzeiros e encruzilhadas. A matraca convida os habitantes da proximidade para “acordar e alembrar das almas do Purgatório”. Inicia-se, então, o canto que dura quase meia hora. Numa noite, fazem-se três estações; na zona rural, fazem também sete ou nove.

Fotos e Video: PASCOM-Macaúbas

A melodia, sempre lúgubre, varia de lugar para alugar. Na sede do Município, por exemplo, há três mais cantadas: Irmão das Almas (pela repetição da mote), Da música (por ter sido acompanhada por músicos, no passado) e Pisa-no-ponto (a mais ligeira, cantada em lugares ermos ou quando se tem pressa).
Na primeira parte da Encomendação das Almas, os encomendadores fazem apologia à Sagrada Paixão e Morte de Jesus Cristo. Na segunda parte, é a encomendação propriamente dita. Pedem-se orações em sufrágio de determinadas classes de almas – três Pai-Nossos com Ave-Marias e por fim uma Salve-Rainha. Cada pedido é seguido de silêncio para a oração correspondente, que é interrompido pela matraca anunciando o novo pedido. E, finalmente, a Salve-Rainha.
A terceira parte, por sua vez, chama atenção para instabilidade da vida e convida para o pedido de perdão. Vai da Salve-Rainha, até o “Senhor Deus”. Canta-se então um bendito. Por fim, a quarta parte é a despedida, cantada caminhando, ao som da matraca.
O costume de enrolar-se todo com lençol branco, por exemplo, chegou à cidade de Macaúbas há muitas décadas, vindo das Lavras Diamantinas (Lençóis, Andaraí, Mucugê). Antes, cobria-se somente a cabeça e assim é feito ainda na zona rural.
Acredita-se que quem não se levantar e rezar as orações pedidas, no ano seguinte estará morto e que durante a Encomendação quem olhar para trás verá almas penadas. A impressão que causa a melodia, acompanhada pela matraca, fez com que a prática fosse proibida lá pela década de 1930, por um juiz ou promotor, cuja “excelentíssima” esposa apavorou-se com a lúgubre cerimônia. E assim, a despeito de proibições oficiais, zombarias e pouca disponibilidade para se perder noites de sono, a prática subsiste por pessoas movidas pelo desejo de sufragar as almas do Purgatório, que mostram com presteza as coisas perdidas aos seus devotos.

FOLCLORISTICA – Revista Anual da Comissão Macaubense de Folclore. Número 1 – 2001