Todos os anos, iniciamos a semana Santa com a celebração do domingo de Ramos. Na liturgia deste dia, os fieis são motivados e conduzidos a dois momentos de singular importância. No primeiro momento, se faz a bênção dos ramos trazidos pelos fieis e a leitura do evangelho segundo o qual Jesus entra na cidade Santa de Jerusalém e é aclamado por todo o povo com gritos de louvação – Lucas 19, 28 – 40.
Jesus é chamado pelo povo com o título de Rei de Israel, Filho de Davi, que montado em um jumentinho, símbolo da humildade, mostra ao mundo o verdadeiro sentido do seu reinado: humildade e amor acima de tudo.
Feita a procissão com os ramos, acontece o segundo momento, que consiste na continuação da Liturgia da Palavra. Todos os anos, neste dia escutamos no segundo momento da liturgia o Evangelho da Paixão de Jesus Cristo. Mas porque o Evangelho da Paixão é lido? Não estávamos aclamando a pouco Jesus Cristo como nosso rei? Sim. Porém Jesus vem apresentar ao mundo uma maneira diferente de ser rei. Um rei que é fiel e obediente ao seu Deus, ao seu Pai e que vem para demonstrar que o verdadeiro reinado só se faz com amor e doação.
Na primeira leitura do livro do profeta Isaias, é ressaltada a obediência do “servo de Javé” nos chamados “Cânticos do Servo Sofredor”. Humilhado e maltratado, ele permanece fiel, sem murmurar ou fraquejar. Esses cânticos de Isaias serão refletidos na pessoa de Jesus, Servo Sofredor e Rei, que tem como trono a cruz e ao invés de uma coroa de brilhantes, uma coroa de espinhos. Os seus súditos são os pecadores, pobres, mulheres, cegos, aleijados, surdos, doentes, as camadas mais pobres e sofridas da sociedade. Jesus mostrará ao mundo a verdadeira face de Deus, que é Pai misericordioso, caminhante com seu povo, acolhedor e defensor contra todo tipo de injustiça.
O Domingo de Ramos anuncia para todos nós aquilo que vai acontecer na sexta-feira santa: o Filho de Deus, condenado injustamente pelas autoridades religiosas e civis de sua época, aceita o suplício da Cruz. Podemos dizer que o plano de salvação de Deus na pessoa de Jesus foi a sua encarnação; e a elevação da humanidade de Jesus, resplandece por conta dos exemplos dados em toda a sua vida.
Jesus assumiu o plano divino sem se importar com as inúmeras ameaças provenientes dos poderes políticos, econômicos e religiosos. Para Jesus, o que importava era ser fiel e obediente ao Pai até o fim. A palavra obediência não é muito aceita pela sociedade de nosso tempo, que vive um relativismo exagerado. Mas Jesus nos ensina que através da fidelidade e da obediência ao Pai, o ser humano é capaz de encontrar o caminho da liberdade e consequentemente a plena felicidade, pois sabemos que após o episódio da cruz, Jesus contemplou a glória da ressureição. Tal obediência leva o ser humano a agir com mais humildade e responsabilidade, fazendo escolhas sábias e corretas para a própria vida. O mundo seria diferente se aprendêssemos a escutar mais a Deus. Diante de tantas crises pelas quais está passando nosso Brasil, o mundo e em especial cada ser humano, a obediência de Jesus, acompanhada pela sua humildade, tem muito a nos ensinar. Boa Semana Santa a todos e todas.
*Pe. Paulo é pároco na cidade de Igaporã, Paróquia Nossa do Livramento