Mais de 500 comunicadores católicos de todo o Brasil – entre eles bispos, padres, leigos e profissionais de imprensa – estiveram reunidos, de 19 a 22 de julho, em Aparecida (SP), no 6º Encontro Nacional da Pastoral da Comunicação (Pascom). Realizado no Centro de Eventos Pe. Vitor Coelho de Almeida, o Encontro teve como tema “Comunicação e Igreja” e contou com uma intensa programação, com conferências, seminários, painéis, lançamento de livros e celebração da Santa Missa. Formado em Comunicação Social (Jornalismo), o jovem Anderson Ferreira da paróquia de Malhada de Pedras e membro da coordenação diocesana da Pascom representou a Diocese de Caetité no Encontro.
Confira como foram as discussões do 6º Encontro Nacional da Pascom.
Quinta-feira
Na cerimônia de Abertura, na noite de quinta-feira (19), o reitor do Santuário Nacional de Aparecida, padre João Batista Almeida, deu as boas-vindas aos participantes e destacou a importância da cidade de Aparecida como um lugar onde a comunicação acontece. “A comunicação é fundamental dentro do processo de evangelização e aqui em Aparecida, desde que os padres redentoristas chegaram, a comunicação tem feito parte desse processo evangelizador”, disse.
O presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB, Dom Darci José Nicioli, falou da necessidade de a Igreja ocupar as novas mídias e de falar, até mesmo, para os que não querem ouvi-la. Nas suas palavras de pastor, o arcebispo de Diamantina (MG) destacou três aspectos importantes para o trabalho da Pastoral da Comunicação. “Primeiro, não deixemos de observar e conhecer melhor os novos modos de expressão que estão se consolidando em nossos dias e formatando novos canais eficazes da comunicação, apoiados na revolução tecnológica. Segundo, o Brasil está pedindo a nós comunicadores que não nos distanciemos das conquistas democráticas e da nossa responsabilidade social. E terceiro, como comunicadores cristãos, reafirmemos o nosso compromisso com a verdade, a verdade que nos liberta, que é Jesus”, enfatizou Dom Darci.
A primeira conferência do 6º Encontro Nacional da Pascom abordou o tema “O caminho da comunicação na Igreja”. Referência no assunto, a doutora e irmã paulina, Joana Puntel, lembrou a trajetória da Igreja e a comunicação no decorrer da história e questionou como evangelizar num mundo marcado por profundas mudanças. “O mundo contemporâneo vive uma nova ambiência, na qual a transmissão da fé entra em crise por muitos fatores que se apresentam como desafios e, por isso, devemos pensar como podemos ser presença evangelizadora nesse mundo das novas tecnologias”, indagou. Nesse contexto, Puntel apresentou alguns desafios para a Pascom: refletir sobre a identidade da pastoral; formação que não se resuma a habilidades técnicas; organização e planejamento; e necessidade da espiritualidade.
Sexta-feira
A conferência “A vivência comunicacional da Igreja na América Latina” abriu os trabalhos da sexta-feira (20). Mestre em Comunicação Social, Ricardo Alvarenga falou da presença da Igreja nesse território e destacou as prioridades elencadas para a comunicação pelas cinco Conferências do Episcopado Latino-Americano, duas delas realizadas no Brasil, no Rio de Janeiro (1955) e em Aparecida (2007). Sobre o papel da Pascom, Alvarenga disse que não se trata apenas de “fotografar as missas, escrever o texto da celebração ou fazer o cartaz dos festejos, mas é preciso também fomentar, nas comunidades, a formação crítica e a reflexão especializada dos produtos dos meios de comunicação”. Ele também disse que, enquanto comunicadores católicos, “é preciso que o nosso trabalho tenha uma incidência social e isso se dá a partir do momento em que nos comprometemos com a transformação social do nosso país e do nosso continente”.
Doutor em Ciências da Comunicação e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPA), Elson Faxina fez uma leitura crítica da mídia em tempos de Fake News. Criticou o fato de a grande imprensa abordar sempre as mesmas notícias e com os mesmos vieses e deu dicas de como identificar uma notícia falsa. “Não acreditem em tudo que ver, de imediato. É tempo de aprofundar o conhecimento, ler e ouvir fontes diferentes”, afirmou. Segundo o professor, os comunicadores católicos têm papel de grande relevância nesse processo de combate às Fake News e ao velho jornalismo, ao serem portadores das boas notícias.
“A rádio como instrumento de evangelização e integração comunitária” foi tema do painel conduzido pelo Ir. Diego Joaquim Souza, coordenador da Pascom do Regional Centro Oeste. Ele trouxe pesquisas que mostram como está o rádio no Brasil, o país que mais ouve esse tipo de veículo e onde a maioria deles segue o modelo de rádio comunitária. Na explanação, Ir. Diego disse que as emissoras de rádio católicas devem ser criativas para cumprir o objetivo maior, que é a evangelização, e devem estar a serviço do povo e da comunidade. Disse também ser importante dissociar a venda de produtos da mensagem religiosa e atentar para a programação musical, não abrindo mão dos valores do Evangelho. “Não estamos na luta pela audiência. Ela será uma consequência se a gente apresenta um conteúdo interessante, produtivo e que faça a diferença na vida das pessoas. Nossa missão é evangelizar”, encerrou.
Sábado
No sábado (21), o bispo-auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre, Dom Leomar Brustolin, ministrou a conferência “Comunicação e Igreja no contexto atual”, revisitando o capítulo X do Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil – “Comunicação na Igreja: atuação da Pascom”. Durante a conferência, Dom Leomar fez vários questionamentos sobre o papel da Pascom numa sociedade que perdeu as referências cristãs e vive uma nova inculturação da fé. “Como está a relação da fé cristã com a cultura local? Nós estamos informando ou formando? Conseguimos mudar a sociedade? Conseguimos fazer com a fé transforme a política, a economia, a educação?”, questionou. “Nós precisamos pensar bem: Pascom para quê?, para quem? e com quem?”, indagou. Entre as ações apresentadas pelo bispo para a boa atuação da Pascom, presentes também no Diretório, estão dinamizar ações comunicativas, promover o diálogo e a comunhão na comunidade, capacitar agentes de comunicação, dar mais visibilidade a ação da Igreja, envolver profissionais e pesquisadores, e recuperar o primado de Deus e o lugar do Espírito Santo na ação evangelizadora e comunicativa.
Doutor em Ciências da Comunicação e professor da Unisinos, Moisés Sbardelotto falou das perspectivas para a Pastoral da Comunicação a partir do Diretório, que desafia os comunicadores católicos a adotar um estilo cristão de comunicar. “Não é apenas um conteúdo que vai nos levar, automaticamente, a sermos comunicadores católicos. Informar todo mundo pode informar. A questão é como é que essa informação se transforma em experiência de vida em nós e isso tem a ver com estilo de comunicação católico”, disse. “Mais do que qualquer conteúdo cristão e católico que nós possamos comunicar, se isso não se reflete na nossa vivência comunitária, nas nossas inter-relações na paróquia, na comunidade, na família, na igreja em geral, de nada serve esse nosso esforço comunicacional mais moderno e aprimorado em conceitos e teorias”, finalizou.
O assessor de imprensa da CNBB, padre Rafael Vieira, abordou o tema “Assessoria de Imprensa na Igreja”. Contou a experiência e o desafio que é estar à frente desse serviço na Conferência dos Bispos e destacou, também, as diferenças entre o assessor de imprensa e o agente da Pascom. “O agente da Pascom representa a solicitude, a gratuidade e o compromisso de fé da Igreja, já o assessor de imprensa na Igreja é um contratado, que tem competências acadêmicas, além do compromisso profissional de aprimoramento, entre outras coisas”.
Domingo
A última conferência do Encontro abordou um tema de extrema importância, sobretudo, neste ano: “A Igreja e o período eleitoral – orientações pastorais”. O diretor executivo da ONG Transparência Internacional no Brasil e economista, Bruno Brandão, apresentou pesquisas feitas pela organização que trazem pontos positivos e negativos com relação à corrupção no Brasil. Diante desse cenário, Brandão frisou a importância da Igreja e, particularmente, da Pascom na luta pelos direitos humanos. “A Pastoral da Comunicação, talvez, seja o mecanismo de comunicação mais inclusivo de nosso país, que pode chegar a todos os territórios que, muitas vezes, ficam marginalizados dos debates públicos, da informação de fonte confiável e expostos a campanhas políticas sem princípios e utilizando-se de Fake News”, disse ele.