A Diocese de Caetité (BA) tem como padroeira Senhora Sant’Ana, que é celebrada no dia 26 de julho, com São Joaquim. Para falar sobre a história de devoção a avó de Nosso Senhor e a relação com o povo desta Igreja Particular, o Fé Católica entrevistou Monsenhor Alex Adriano Rocha Barbosa, Pároco da Paróquia Senhora Sant’Ana de Caetité (Catedral) e Vigário-Geral da Diocese, e o Diácono Lázaro Teixeira Trindade.
Confira a entrevista:
Fé Católica: Quando e como surge a devoção a Senhora Sant’Ana e São Joaquim?
Monsenhor.:Não possuímos dados precisos do início desta devoção. Estima-se que os relatos da devoção a Senhora Sant’Ana e São Joaquim, avós maternos de Jesus, tenham surgido em meados do século VI no Oriente e se espalhado lentamente pelo Ocidente a partir do século X, chegando ao seu auge nos séculos XV e XVI, quando o Papa Gregório VIII determinou a celebração da memória de Sant’Ana para o dia 26 de julho. A veneração a São Joaquim será reconhecida posteriormente, em 1960, sendo também fixada no dia 26 de julho pelo Papa Paulo VI.
A devoção aos pais de Maria não possui bases bíblicas. O único escrito que os menciona é o Proto-Evangelho de São Tiago, um texto “apócrifo”, também conhecido como “Infância de Maria”. Diga-se de passagem, os textos apócrifos são narrativas doutrinais que visam disseminar a visão de determinados grupos da Igreja primitiva. Por não conseguir articular corretamente a humanidade e divindade de Jesus, a Igreja não os considera como Revelados. Não obstante, o Proto-Evangelho de São Tiago era muito conhecido nos primeiros séculos do cristianismo oriental por narrar o nascimento “extraordinário” de Maria, um milagre de Deus ante a esterilidade atribuída a Joaquim e Ana.
F.C.:Qual a importância da figura de Senhora Sant’Ana e São Joaquim na vida de Maria?
Monsenhor.: Se olharmos a figura de Maria nos Evangelhos, perceberemos que ela foi uma pessoa bem instruída na Palavra de Deus e na vida de seu povo. Lucas (Lc 1,30) chama Maria de “agraciada”, isto é, alguém que, durante toda sua vida, recebeu um olhar especial da parte de Deus. O mesmo Evangelista também evoca o profundo conhecimento que Maria tem da Fé judaica quando ela professa o Magnificat (Lc 1,46-55). Isso provavelmente decorre de seus Pais. Eles, como todo casal judeu, eram responsáveis em ensinar a Torá para seus filhos. A tradição da Igreja apresenta Joaquim como um judeu devoto, dedicado e de grande fé em Deus. Também foi Joaquim, segundo o Proto-Evangelho de São Tiago, que consagrou Maria totalmente a Deus, apresentando-a, no templo, ainda criança.
F.C.:Por que associa-se a celebração dos santos ao dia dos avós? Como isso surge?
Monsenhor.:Nós cristãos costumamos ligar pessoas e fatos importantes de nossas vidas aos fatos e pessoas importantes da vida de Jesus. Afinal, esta é a meta de vida de todo cristão: parecer-se com Jesus, configurar-se a ele. Ao celebrarmos Ana e Joaquim, avós de Jesus, fazemos “o elogio dos nossos antepassados através das gerações, cujos gestos de misericórdia não serão esquecidos” (Eclo 44,1.10-15). Por isso, no dia 26 de julho, também lembramos de todos os avós.
F.C.:Neste período de distanciamento físico, como famílias podem e devem expressar o carinho e cuidado com os idosos?
Monsenhor.:Durante a Pandemia, além estarem no grupo de risco, os idosos correm o risco de se tornarem excluídos e invisíveis. É importante que, mesmo distanciados, a família se esforce para manter um contato constante com eles: estar presente, mesmo que por novos meios, é imprescindível. É fundamental proteger os idosos, sem causar neles medo e pânico. Cabe aos familiares mais jovens incluir os idosos – não somente – no mundo digital. Os idosos possuem uma devoção mais acentuada, por isso, rezar com eles é também uma forma de cuidado. Ademais, penso que a pandemia se tornou uma oportunidade para que as gerações mais novas ensinem uma “nova maneira” de rezar e celebrar àqueles que lhes ensinaram as primeiras orações.
F.C.:Como o fiel de Caetité tem expressado sua devoção à sua padroeira neste período de distanciamento social?
Diácono:São muitas formas! Muitos fiéis participam e acompanham ativamente o Novenário em louvor à Senhora Sant’Ana pelos meios de comunicação (Rádio 100,7 FM Educadora Sant’Ana) e redes sociais (Facebook e Youtube). Há aqueles que, respeitando o distanciamento social, recorrem à nossa Catedral para seu momento de oração perante a imagem de nossa padroeira. Muitos já ornamentam suas casas, comércios, ruas, para a passagem da Imagem de Sant’Ana: seja durante o novenário, seja no dia da grande festa.
F.C.:Qual mensagem o senhor acredita que os santos recordados hoje, em especial Senhora Sant’Ana, transmitem para o povo de Deus, seus devotos?
Monsenhor.:Sant’Ana e São Joaquim nos convidam à verdadeira esperança. O Evangelho do dia 26 de julho nos lembra o desejo de muitos justos e profetas, dentre eles Ana e Joaquim, que desejaram ver o Messias e a redenção de Israel. “Que estes dias sejam marcados pela ‘esperança que não decepciona’ (Rm 5,5). Mesmo cansados do isolamento, da quarentena e das medidas que tivemos que adotar para este tempo (distanciamentos, máscaras, álcool em gel…), não nos entreguemos ao desânimo nem à desesperança”.