Quando D. José Terceiro de Sousa chegou à Caetité para assumir o Bispado em 26 de junho de 1948, trazia consigo o desafio de aprofundar a caminhada diocesana de seus predecessores e fortalecer a presença do catolicismo nos longínquos sertões da Bahia. Em 21 de abril de 1946, a maioria do clero diocesano despedira de D. Juvêncio Britto, seu antecessor, após 20 anos à frente da Diocese de Caetité se deslocara para outra diocese. Antes, porém, em 3 de fevereiro de 1946, D. Juvêncio convidara o clero para uma reunião no paço episcopal por ocasião da semana santa, anunciado o encerramento do seu bispado.
O jovem bispo D. José Terceiro, com 38 anos de idade trazia a soma da experiência na condução pastoral, na condição de pároco que exercera em sua terra natal (Boa Viagem-CE), e a energia própria da juventude vigorosa que apresentava. Recém – sagrado bispo em 20 de junho de 1948, teve cerimonial de sagração concorrido, com a participação de ilustres autoridades de sua terra, o Ceará:
Sua indicação ao bispado, acolhida pelo papa Pio XII, provavelmente, fruto da sua atuação intrépida frente à paróquia de Russas no Ceará. Ali, travara luta renhida na defesa dos interesses da comunidade católica, na condição de pároco daquela comunidade, assumindo combate aberto contra autoridades de sua cidade que fundara um centro espírita, considerado uma ameaça aos interesses da igreja e de seu rebanho.
Ao assumir a Diocese de Caetité, D. José Terceiro se deparou os desafios que somente aos grandes homens imbuídos do espírito de combatividade e intrepidez é dado enfrentar. Além do imenso território na lonjura dos sertões, com as enormes dificuldades na superação das distâncias – o que dificultava a comunicação entre as várias comunidades da igreja e, por conseguinte, a condução pastoral que almejava – deparou também com condições sociais e políticas de uma região que ainda vivia mergulhada em um passado de atrasos culturais, manipulação política de seus líderes e ameaças de uma modernidade que se aproximava, ainda que lentamente, especialmente das pequenas cidades, trazendo em seu bojo referenciais de esgarçamento do tecido social, no que tange às práticas da conduta cristã propugnadas pela religião.
Junto a isso, as rudezas de uma população “ignorante” de maioria rural, que conservava comportamentos advindos das seculares práticas do catolicismo popular, longe dos cânones romanos, requeriam uma ação verdadeiramente missionária que fosse capaz de promover o engajamento dos fiéis na promoção do cristianismo ajustado com as designações do Vaticano. Esse quadro nos apresenta os desafios da sua conduta pastoral, demarcando, com isso, uma grande contradição da realidade social dessa diocese do Alto Sertão da Bahia.
Assim, D. José Terceiro que adotara como dístico em seu brasão a frase “Laxabo Retis” que, em bom latim, significa “Lançarei a rede”, retirada de um trecho do evangelho (Lucas 5,5), não a traria somente como uma referência distante. Na condução da Diocese de Caetité, tratou de assumir essa condição de “Pescador de Almas” dos sertões da Bahia. Seu fervor logo se destacara, gerando ânimo novo entre os fiéis, redundando em ações de fortalecimento do catolicismo por todos os recantos da diocese, na construção de novas igrejas, reformulação das mais antigas, na ampliação do Paço episcopal com a construção do andar superior e dinamização das ações religiosas por todo o território diocesano.
Ficou famosa sua prática de dirigir, pessoalmente, o automóvel modelo jeep (que segundo alguns depoentes não era compartilhado com mais ninguém) e, com ele, viajar por todo o sertão em visita às paróquias e fiéis de sua diocese, procurando resolver pessoalmente os entraves que impediam que as ações religiosas não encontrassem a efetividade que concebia nas pastorais diocesanas que realizava.
O seminário menor da Diocese localizado à Rua Barão de Caetité, foi edificado em terreno anteriormente adquirido por doação e já idealizado pelos seus antecessores, Sua construção constituía estratégia na formação de novos sacerdotes para o trabalho nos sertões distantes, visando o fortalecimento vocacional para que a ação diocesana se efetivasse na constituição de novas paróquias e de novos e mais fervorosos fiéis. Esse, sem dúvida, era um dos grandes entraves da ação pastoral da igreja nesse imenso território do sertão da Bahia.
As obras do seminário menor, iniciadas com muito custo e empenho de D. José Terceiro de Sousa, visavam superar essa questão do incentivo às vocações trazendo para perto do homem sertanejo a possibilidade de dedicar-se ao caminho das vocações sacerdotais, assumindo seu povo como rebanho, para estar ao seu lado e com ele traçar um caminho auspicioso de uma comunidade religiosa.
Em 6 de abril de 1958, o seu sucessor, bispo D. José Pedro Costa comunicava ao padre Sátiro Costa, da paróquia de Jacaraci, através de circular também enviada às demais paróquias, que fora inaugurado em 19 de março daquele ano, para regozijo geral, o seminário São José, tendo o então Padre Ademar Cardoso Neves como reitor e Padre Homero Leite Meira como ecônomo. Funcionando naquele ano somente a primeira série do seminário menor e contando com 15 seminaristas, florescera, por fim, essa bela semente tão bem plantada e regada pelas ações de D. José Terceiro.
Sobre ele, as opiniões divergem. Uns o consideravam um tanto exagerado na conduta combativa à frente da comunidade de fiéis. Outros o tinham por uma liderança atuante, mobilizadora, capaz de fazer da ação uma verdadeira transformAÇÃO. O que todos concordam é que Dom José, terceiro bispo de Caetité, foi sujeito ativo da sua e de outras histórias.
Assim, ao deixar a Diocese em 1955, Dom José Terceiro foi transferido para a Arquidiocese de São Salvador, como bispo auxiliar. Ainda assim continuou como administrador apostólico, até 1957, acompanhando à distância o desenvolvimento das ações na Diocese que tão bem conduziu, sendo substituído pelo mineiro Dom José Pedro Costa. Em 1957. assumiria a Diocese de Penedo, em Alagoas onde ficaria até 1976, quando apresentou sua renúncia.
Em 14 de julho de 1983, aos 75 anos, faleceu Dom José Terceiro em Fortaleza, vítima de parada cardíaca, deixando as marcas da liderança de um povo que o amou e reconheceu nele um líder inconteste.