17 de fevereiro de 2016
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[ARTIGO] O combate ao aedes aegypti

Por Dom Murilo S.R. Krieger, scj Arcebispo de Salvador

Mosquito Aedes Aegypti

Mosquito Aedes Aegypti

Dois anos atrás, as Igrejas Cristãs que fazem parte do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs – Conic assumiram a responsabilidade de preparar a Campanha da Fraternidade (CF) de 2016. Ao refletir sobre o tema que deveriam escolher, concluíram que precisaria girar em torno do direito que todas as pessoas têm ao saneamento básico. Na fase de preparação do texto-base, foi publicada a encíclica “Laudato si – sobre o cuidado da casa comum”, do Papa Francisco. Foi natural, pois, que as reflexões papais acabassem iluminando vários parágrafos do texto.

Lançada a CF-2016, percebe-se quanto o tema que aborda é oportuno e atual. Nosso país enfrenta as consequências da “vergonhosa realidade do saneamento básico”: a multiplicação do mosquito “aedes aegypti”, transmissor da dengue, do vírus zika e do chikungunya.

Preocupada com os desdobramentos dessa situação, e convicta da necessidade de “um grande mutirão, que envolva todos os setores da sociedade”, a CNBB, através de seu Conselho Episcopal Pastoral, aprovou uma mensagem para a sociedade. Afinal, somente nos mobilizando “seremos capazes de vencer estas doenças que atingem, sem distinção, toda a população brasileira”.

Da Mensagem da CNBB, chamo a atenção para cinco pontos: 

1º – Gravidade da situação: “Merece atenção especial o vírus zika por sua provável ligação com a microcefalia (…). A gravidade da situação levou a Organização Mundial da Saúde a declarar a microcefalia e o vírus zika emergência internacional. O estado de alerta, contudo, não deve nos levar ao pânico, como se estivéssemos diante de uma situação invencível, apesar de sua extrema gravidade”. Aqui, é preciso reconhecer a ação positiva de nossa Imprensa, que tanto tem alertado sobre essas questões.

2º – Desvio de foco: “Tampouco justifica defender o aborto para os casos de microcefalia como, lamentavelmente, propõem determinados grupos que se organizam para levar a questão ao Supremo Tribunal Federal, num total desrespeito ao dom da vida”. É incrível: grupos pró-aborto, com o apoio, inclusive, de setores da ONU, estão sempre prontos a aproveitar toda e qualquer oportunidade para disseminar suas propostas.

3º – Prioridade na aplicação de recursos: “Seja garantida, com urgência, a assistência aos atingidos por essas enfermidades, sobretudo às crianças que nascem com microcefalia e suas famílias. A saúde, dom e direito de todos, deve ser assegurada, em primeiro lugar, pelos gestores públicos. A eles cabe implementar políticas que apontem para um sistema de saúde pública com qualidade e universal”. Quando não se investe em prevenção, paga-se muito mais caro pelas consequências.

4º – Envolvimento de todos: “O compromisso de cada cidadão também é indispensável, na tarefa de erradicar esse mal que desafia nossas instituições. O princípio de tudo é a educação e a corresponsabilidade. Por isso, exortamos as lideranças de nossas comunidades eclesiais a organizarem ações e a se somarem às iniciativas que visem colocar fim a essa situação. As ações de competência do poder público sejam exigidas e acompanhadas”.

5º – Necessidade de orientações: “Nas celebrações, reuniões e encontros, sejam dadas orientações claras e objetivas que ajudem as pessoas a tomarem consciência da gravidade da situação e da melhor forma de combater as doenças e seu transmissor. Com o esforço de todos, a vitória não nos faltará”. Precisamos aproveitar a ramificação que nossas Igrejas cristãs têm para, juntos, testemunharmos ao mundo que nossa fé se manifesta em obras.

Por fim, um pedido: que “Deus, em sua infinita misericórdia, faça a saúde se difundir sobre a terra” (cf. Eclo 38.8).